Parte I
Caçar com gato
A crónica “Divórcio anunciado” começa por evidenciar que alguém, que também muito prezo, faz apologia do “médio transportador”. Penso que, no caso, não se trata de fazer a apologia deste tipo de jogador, mas antes reconhecer que as potencialidades e singularidades de um determinado jogador, Cristián Rodríguez, permitiram à sua equipa, o FC Porto, criar uma subdinâmica alternativa, que passou a ter primazia, por dar respostas diferentes, e por sinal mais eficazes, à forma como a equipa transita para o ataque. Note-se que tal não significa que também eu faça apologia deste tipo de funcionalidade colectiva (que, na maior parte das vezes, tende para desfuncionalidade). Contudo, não me choca que haja equipas que o façam. Parece-me que, mais do que a apologia do “médio transportador”, aquilo que o tão prezado comentador sugere é que, face à não existência de um verdadeiro pivô na equipa do FC Porto, esta mostrou-se a alternativa mais viável.
Penso que Fernando, tendo uma evolução interessante, ainda não sabe funcionar como pivô, ainda só é útil e eficaz em meio jogo: quando a equipa perde e não tem bola. Em posse, os seus movimentos de apoio ao portador devem ser melhorados, a criação de diagonais de passe nem sempre é assegurada, muitas vezes esconde-se e, além disso, a sua qualidade de passe e noção de ritmo não lhe permitem dar à equipa uma dinâmica muito abrangente e variável, visto que não consegue acelerar através de passe, não tem facilidade em identificar os timings de entrada da bola, não tem facilidade em variar com qualidade o lado da bola, nem de alternar passe longo e curto (tudo isto ainda mais evidente sobre pressão). Por isto, e talvez por mais algumas coisas, apesar de jogar na posição 6, não consegue ser o elo de ligação que a equipa necessita nos momentos de transição ofensiva, já que não é capaz de fazer chegar a bola à frente de forma rápida, como o treinador parece desejar. Por apenas jogar meio jogo, a alternativa foi encontrar alguém que, face à forma de jogar desejada, pudesse responder de modo mais ajustado ao jogo todo.
A solução passou por Rodríguez, um jogador que, jogando a partir de posições mais adiantadas, assumia outras funções nas quais não exponenciava algumas das suas potencialidades, além de retirar algumas coisas à equipa que, no meu entender, se constituíam como um estorvo. Um exemplo, e uma vez que parte geralmente de posições interiores, é a perda de largura na frente e, por conseguinte, o roubo de espaço a explorar pelo ponta de lança, assim como a sobreposição de zonas a explorar por ambos. Lá está, “quem não tem cão caça com gato”! Trata-se, pois, de uma questão de prioridades, tendo em consideração as potencialidades e necessidades da equipa. Um balanço e uma tarefa que, na verdade, são o cerne da actividade de um treinador.
Face ao exposto, penso que o que o nosso estimado amigo sugere é que o recurso a Cristián Rodríguez, naquele contexto concreto, acaba por ser um mal menor. Se a sua apologia fosse pelo “médio transportador”, não faria sentido que essa mesma pessoa identificasse como “erro conceptual” e fonte primeira da generalidades dos bloqueios colectivos da equipa do Sporting a inexistência, por opção do treinador, de um jogador capaz de desempenhar com qualidade as funções de pivô. Uma posição e função que, numa estrutura como a do Sporting, me parece determinante.
Jorge Maciel
segunda-feira, 27 de abril de 2009
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Relativamente ao Fernando, estou de acordo em relação à sua evolução, mas sobretudo em relação às limitações que ainda revela no processo ofensivo, nomeadamente no capítulo do passe. Para mim sobretudo no capitulo do passe, é um jogador instável, o que na sua função é altamente preocupante já que qualquer passe é potencialmente decisivo.
ResponderEliminarA meu há algumas diferenças nesta época em relação ao momento de transição do Porto. Enquanto que no passado, Quaresma primeiro e Lucho depois foram referências claras para a saída em transição, hoje Jesualdo utiliza muito mais a capacidade de explosão e velocidade em transporte de bola de Rodriguez e Hulk. Isto torna-se mais visivel nos jogos fora, com Hulk a aparecer mesmo em zonas centrais, porque nestes jogos a equipa tem mais oportunidades para atacar em transição, ao contrário dos jogos em casa onde é forçada quase invariavelmente a atacar em organização ofensiva. Aqui nota-se uma diferença grande nas capacidades de Hulk e Rodriguez, numa e noutra forma de atacar. Enquanto que com espaço se tornam temíveis por essa capacidade de transporte explosiva que têm, sem ele revelam algumas lacunas na inteligência de movimentação (ao contrário de Lisandro e Lucho, por exemplo). Principalmente Hulk, já que Rodriguez consegue ter diagonais de desmarcação muito fortes, sobretudo nas zonas de finalização.