quarta-feira, 15 de abril de 2009

OPINIÃO

“Jogar para os pontos”?!!
por Carlos Campos
A finalidade das equipas de futebol terem um treinador parece-me estar relacionada com a necessidade de este lhes transmitir uma identidade própria, um determinado tipo de inter-relacionamentos entre os jogadores que lhes permitam jogarem o mesmo jogo, o mesmo futebol. Há a necessidade de os jogadores se sincronizarem na mesma ideia para que, em cada momento do jogo, se movam no mesmo registo e funcionem como um todo que partilhe os mesmos princípios de acção. Só desta forma poderemos falar em Equipa na verdadeira acepção da palavra, num colectivo que, jogando de determinada forma, tenta em cada jogo superiorizar-se ao adversário procurando marcar mais golos do que aqueles que sofre.
Esta identidade, esta determinada forma de jogar futebol cuja construção é da responsabilidade do treinador, é conseguida através das diferentes solicitações que este lhes propõe ao longo do processo de treino, ou seja, é neste processo que os jogadores vão adquirindo os princípios de acção que consubstanciam o jogo da equipa.
A riqueza da ideia de jogo que o treinador tem é de vital importância, pois boas ideias são fundamentais para bons futebóis. Contudo, mesmo uma ideia mais pobre, ou menos complexa, poderá sobreviver se for operacionalizada com qualidade, isto é, se essa forma de jogar for a prioridade a desenvolver, se tiver os seus princípios bem estruturados e hierarquizados, se tiver em conta uma alternância horizontal dos conteúdos de treino que lhes permita uma assimilação gradual e saudável daquilo que o treinador pretende e se este dominar tudo isto e, com uma intervenção perspicaz, for ajustando todas estas variáveis tendo em vista a tal ideia…
Esta introdução lapalissiana (sê-lo-á para a maioria… espero) esbarra estrondosa, diria mesmo catastroficamente, nos treinadores que, perto do fim das respectivas ligas, assumem heroicamente: «A partir de agora vamos jogar para os pontos!». Ora, surge aqui um ponto de ruptura marcadamente ilógico, sem sentido nem coerência, que ataca de forma aniquiladora e voraz aqueles que, como eu, acreditam nas tais verdades de la Palisse que referi anteriormente. Será que os treinadores que dizem isto não jogavam para ganhar até então???
O que se verifica habitualmente após este tipo de mudança de atitude são equipas a alterarem subitamente a sua forma de jogar procurando, sempre que têm a bola, colocá-la directamente na área adversária na crença de duas coisas: 1) «Bola perto da baliza adversária aumenta a probabilidade de golo nosso»; 2) «Bola longe da nossa baliza reduz a possibilidade de sofrermos golo».
Admitindo isto como meias verdades, emanam daqui um conjunto de questões que me causam uma enorme intriga que é a raiz deste texto. Se um treinador acredita que esta é a melhor forma de conquistar pontos, por que não jogou assim desde o inicio, procurando inclusivamente treinar isso (a tal ideia pobre…)? Treinador que mude o seu jogo de uma semana para a outra saberá o que é treinar para um «jogar»? Treinador que diga «A partir de agora vamos jogar para os pontos» alguma vez terá tido como preocupação desenvolver na sua equipa uma identidade? Achará isso importante?
Creio que um treinador que diz isto não é treinador, porque não cumpre nenhum dos requisitos sine qua non daquilo que, para mim, é SER TREINADOR. Treinador que o seja e não esteja a vencer, identifica e reajusta aquilo que está mal, mas joga sempre para os pontos, pois acredita que a sua ideia de jogo (sim, porque um treinador que o seja de facto tem uma ideia de jogo que procura desenvolver) é a melhor forma de ganhar os jogos.
Percebo perfeitamente o que é a necessidade imperiosa de pontos, níveis de confiança baixos por sucessivos insucessos, adeptos descontentes, Direcção a pressionar, etc., mas a melhor forma de conquistar pontos é a jogar bom futebol, proveniente de uma boa ideia bem treinada, sendo isto apenas passível de ser desenvolvido por bons treinadores!
Carlos Campos

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