quinta-feira, 28 de maio de 2009

VALE A PENA LER DE NOVO

Responder à pressão
A receita avançada para o jogo do Bessa não era nova: “O Sporting joga bom futebol, mas tem de fazer um jogo de sacrifício”; “É preciso que os jogadores leoninos corram tanto ou mais do que os adversários”; “O Sporting tem de aliar um grande espírito de sacrifício e de luta à boa capacidade técnica que possui”. Lugar comum, ou não se tratasse de um jogo com o Boavista.
Peseiro, coerente, contrariou esta lógica do “temos de jogar com as mesmas armas do adversário para ganhar o jogo” e respondeu noutro registo... com qualidade de jogo!
O Boavista, invariavelmente, procura primeiro não deixar jogar, utilizando até à exaustão um “pressing” homem a homem. Pacheco chama-lhe “jogar em pressão”.
Porém, frente ao Sporting, a sua usual eficácia desapareceu e ficou à vista uma grande desorganização defensiva. Porquê? Porque o Sporting respondeu com circulação de bola, mobilidade, trocas posicionais e rapidamente colocou a nu as muitas fragilidades e incoerências do “pressing” quando perspectivado homem a homem.
Para ter eficácia, Pacheco teria de fechar a equipa e partir para uma pressão colectiva, zonal. Mas as suas referências defensivas são outras... E percebe-se a “vertigem” pelo “fisicismo”. Alguma coisa tem de compensar tal (des)organização.
Com uma equipa que se esforça por não deixar jogar e que não se coíbe de cortar em falta qualquer lance mais ousado, a solução ajustada não é “correr tanto ou mais que o adversário”... É fazer correr a bola, não fixar o alvo da pressão adversária, não lhe dar tempo de fazer falta! Sobretudo na primeira parte, Peseiro deu uma aula de como jogar contra equipas com as características do Boavista de Jaime Pacheco.
Já hoje, o “jogo de pressão” do Boavista pode voltar a ser extremamente eficaz. Sem a alta circulação de bola de outrora, o FC Porto que se cuide...
Nuno Amieiro, na revista Record DEZ de 9 de Abril de 2005

1 comentário:

  1. "Com uma equipa que se esforça por não deixar jogar e que não se coíbe de cortar em falta qualquer lance mais ousado, a solução ajustada não é “correr tanto ou mais que o adversário”... É fazer correr a bola, não fixar o alvo da pressão adversária, não lhe dar tempo de fazer falta! Sobretudo na primeira parte, Peseiro deu uma aula de como jogar contra equipas com as características do Boavista de Jaime Pacheco."

    Sem dúvida. Nesse ano, sobretudo em organização ofensiva, o Sporting era fortíssimo e os dois resultados expressivos contra o Boavista no campeonato dois exemplos de como ultrapassar estratégias que primam pela agressividade e pelo jogo de atribuição de pares. A circulação de bola do Sporting de Peseiro era algo notável e foi graças a esse modo de jogar que chegou onde chegou. O facto de não ter ganho nada, ficando tão perto, não implica, por si só, que o modelo era desajustado ou irresponsável. Não terá ganho nada porque não teve sorte e porque não era tão rigoroso noutros aspectos do jogo como o era em relação aos processos ofensivos. Mas o futebol praticado, juntamente com o Porto de Mourinho, foi do melhor que se viu em Portugal nesta década.

    Cumprimentos

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