Jogar como os grandes para vir a ser como eles
A condenação que aqui fiz ao cinismo do antijogo e do contra-ataque, há uma semana, mereceu uma resposta do José Manuel Delgado. Já por várias vezes tínhamos discutido o assunto, o que me levou a ler ainda com mais atenção a defesa dos treinadores que, não por convicção, mas "por necessidade”, “deitam mão de tácticas defensivas”. E respondo. Concordo com a tese, mas discordo da sua defesa. Sim, é necessário reduzir o número de clubes na I Liga. Não, não acho que o antijogo seja frutuoso. A questão é subjectiva e nunca poderá ser provada a razão de uma ou da outra parte, mas acho que os treinadores dos pequenos devem, acima de tudo, tentar jogar como os grandes se algum dia querem ser como eles.
Não me aborrece o “antijogo” do Mestre de Avis na Batalha de Aljubarrota. Por várias razões, das quais cito uma: nessa altura não venderam bilhetes e não se colocava a questão do respeito pelo público que os compra. Depois, em jogo estava muito mais do que um jogo de futebol, por inerência um espectáculo ou um divertimento. Os utilitaristas podem sempre dizer que hoje, com as pressões que se colocam sobre uma equipa profissional, há que ganhar a todo o custo. Mas quem disse que o melhor modo de o fazer é negar o espectáculo? Billardo ganhou um Mundial a praticar antifutebol, mas tinha Maradona, o último génio que já apareceu nos relvados. E antes dele já Menotti tinha ganho um título idêntico a jogar bem. A discussão entre “Menottistas” e “Billardistas” é filosófica e, por isso mesmo, será eterna. Mas nunca nenhum dos grupos poderá negar a razão ao outro. Resta-nos assim a questão do gosto. E dá mais gozo ganhar a jogar bem do que a jogar mal.
Jorge Valdano, que sabe do que fala, porque aplicou os mesmos princípios de jogo quando se tratou de salvar o Tenerife de descer de divisão e quando precisou de ganhar o campeonato, no Real Madrid, nega a discussão em torno do “resultadismo”. “Acima de tudo, há que jogar bem, pois se jogarmos bem há mais hipóteses de ganharmos”, diz. O antijogo pode até valer um bom resultado episódico a um clube pequeno quando joga com um grande (e nem sempre, como se viu pela falta de surpresas na eliminatória desta semana da Taça de Portugal), mas nunca lhe permitirá a consistência própria das boas equipas. Em sentido contrário, a prática do bom futebol pode reduzir as hipóteses dos pequenos baterem o pé aos grandes, mas dá-lhes uma rotina de futebol construtivo que pode ajudá-los contra as outras equipas do seu campeonato. E, no futuro, até contra os grandes. Porque de tanto jogar como eles, uma equipa pequena pode deixar de o ser.
António Tadeia, no jornal Record de 16 de Novembro de 1999
(artigo publicado com a autorização do autor)
quinta-feira, 30 de abril de 2009
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Nem mais, basta vermos o actual Belenenses, que depois de várias épocas com bom futebol, numa equipa com boas individualidades mas trabalhada de forma correcta, vive hoje um momento degradante com esse Campeão Nacional, Sr. Jaime Pacheco.
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